Platão – o realismo das ideias. Professor
Marcos Brito.
Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., era filho de
pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre família. Seu nome era Arístocles, mas recebeu o apelido de
Platão, que em grego significa de ombros largos. Recebeu educação especial,
estudou leitura e escrita, ginástica, música, pintura e poesia. Era excelente
atleta, participou dos jogos olímpicos como lutador.
Aos vinte anos, Platão conheceu Sócrates -
mais velho do que ele quarenta anos - e teve oito anos do ensinamento e da
amizade do mestre.
Mesmo quando discípulo de Sócrates e, ainda
depois a morte do seu mestre, Platão estudou também os maiores pré-socráticos.
Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundou a
sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome
famoso de Academia.
Platão interessou-se vivamente pela política
e pela filosofia política. Dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao
ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi interrompida
a não ser pela morte. Morreu o grande Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta
anos de idade.
Platão é o primeiro filósofo antigo de quem
possuímos as obras completas. A atividade literária de Platão abrange mais de cinquenta
anos da sua vida: desde a morte de Sócrates, até a sua morte. Platão escreveu
sobre diversos assuntos, tais como ética, arte, teoria do conhecimento, entre
tantas. Suas obras influenciaram e moldam até hoje a filosofia ocidental.
PLATÃO
e o Mundo Sensível e o Mundo das Ideias
Para Platão, as ideias são realidades que
existem, aliás, as únicas verdadeiramente existentes, uma vez que as coisas que
vemos e tocamos são como sombras efêmeras. Deve-se, pois, entender a filosofia
de Platão como um realismo das ideias.
Ora, se existe um mundo de realidade e um
mundo de aparência, deve-se procurar saber como se pode distinguir um do outro.
Sabe-se que as aparências são diagnosticadas por nossas sensações (os sentidos:
visão, audição, tato, olfato, paladar) ao passo que as nossas ideias diagnosticam
o mundo da realidade.
Por aí
se vê que só podemos aproximar-nos da realidade através do pensamento. O
CONHECIMENTO VERDADEIRO É AQUELE QUE SE REFERE ÀS ESSÊNCIAS, ÀS IDÉIAS.
Platão afirma que as ideias são vivas e não
inertes, como muitos poderiam pensar. Para
ele a ideia mais importante é a do Bem, porque constitui a natureza de Deus
criador soberano do Cosmo. Não pode o
Bem ser causa do Mal.
Todavia, a existência do Mal não pode ser
negada, é o inverso, que se opõe ao Bem. O que importa é que todas as ideias se
inclinam para aquela ideia superior a todas elas, que é a ideia do Bem.
Platão
quer que o Estado se ajuste à ideia do Bem, dai por que coloca sua filosofia a
serviço da teoria política do Estado. Crê que se a ideia do Bem é a suprema ideia
e é aquela que rege e manda em todas as outras ideias, do mesmo modo, entre
tudo o que existe no mundo sensível, o
que deve e tem que coincidir com a ideia do Bem é o ESTADO.
Por isso, ele escreve esses dois livros
admiráveis, A República, e As Leis,
onde mais profundamente estuda a formação do Estado ideal e chega à conclusão
de que o Estado ideal seria aquele em
que os mandantes fossem filósofos.
Na Alegoria da Caverna, Platão resume a
aprendizagem do homem, buscando as verdadeiras ideias no mundo maravilhoso do
incognoscível. E nessa alegoria que Platão estabelece a comparação entre o
mundo sensível e o mundo inteligível. Para tanto, lança mão de sombras que se
projetam no fundo de uma caverna escura, quando pela sua entrada passam objetos
iluminados pela luz do sol.
O Mito da Caverna
O Mito da Caverna, também conhecido como
“Alegoria da Caverna” é uma passagem do livro “A República” do filósofo grego
Platão. É mais uma alegoria do que propriamente um mito. É considerada uma das
mais importantes alegorias da história da Filosofia. Através desta metáfora é
possível conhecer uma importante teoria platônica: como, através do
conhecimento, é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido
através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da
razão).
O
mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes
numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é
iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras
de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas
e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens
(sombras), analisando e julgando as situações, acreditando ser elas o mundo real
de fato.
Vamos
imaginar que um dos prisioneiros se liberte das correntes para poder explorar o
interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a luz do sol (de
forma confusa e com certa dificuldade), com a realidade e perceberia que passou
a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao
sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os
seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna
para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda
presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois
seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede
iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de
morte caso não pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas.
O que Platão quis
dizer com o mito da caverna
“A caverna subterrânea é o mundo visível. O
fogo que a ilumina é a luz do sol. O prisioneiro que sobe à região superior e
contempla suas maravilhas é a alma que ascende ao mundo inteligível. E o que eu
penso, mas só Deus sabe se é verdade. Em todo caso, eu creio que nos mais altos
limites do mundo inteligível está a ideia do bem que dificilmente percebemos,
mas que ao contemplá-la, concluímos que ela é a causa de tudo o que é belo e
bom”. (A República, VII,
518b-d).
Os seres humanos tem uma visão distorcida da
realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos
apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e informações que recebemos
durante a vida.
A caverna simboliza o mundo, pois nos
apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a
realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou
seja, quando saímos da caverna.
Qualquer pessoa que tente buscar a essência
das coisas para além do mundo sensível será como o personagem da caverna, que
por acaso se libertou, e assim como Sócrates correria o risco de ser morto por
expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmente diferente.
Transpondo para a nossa realidade, é como se
você acreditasse, desde que nasceu que o mundo é de determinado modo, e então
vem alguém e diz que tudo aquilo é falso e tenta te mostrar novos conceitos,
totalmente diferentes.
Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi
morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna
pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passam, na existência
humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homens
acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo,
inertes em suas poucas possibilidades.
Tal como a personagem Neo, no filme MATRIX
que, ao descobrir a VERDADE, tem que escolher entre o mundo real e o sensível,
tomando a pílula azul ou vermelha. Ao tomar a pílula vermelha, ele agora passa
a ser caçado de morte, pois não pode libertar mais ninguém com a verdade
descoberta.
PLATÃO
E A TEORIA DO CORPO E DA ALMA
A teoria das ideias de Platão está
diretamente ligada a sua teoria da alma.
Na parte IV do seu livro “República” Platão concebe o homem como corpo e
alma. Enquanto o corpo modifica-se e envelhece, a alma é imutável, eterna e
divina. A alma inteligente preso ao corpo um dia foi livre e contemplou o mundo
das ideais, mas as esqueceu.
É somente através da busca do conhecimento,
através de um processo de recordação, de REMINISCÊNCIA
o homem pode lembrar-se das ideias que um dia contemplou. A realidade sem forma, sem cor, impalpável
só pode ser contemplada pela inteligência, que é o guia da alma. Platão divide a alma em três partes:
1.
O lado racional está localizado na
cabeça, seu objetivo é controlar os dois outros lados, com ele adquirimos a
sabedoria e a prudência.
2.
O lado emotivo está localizado no
coração, seu objetivo é fazer prevalecer os sentimentos e a impetuosidade, com
ele adquirimos a coragem.
3.
O lado sensível que está localizado
no baixo-ventre, seu objetivo é satisfazer os desejos e apetites sexuais, com
ele adquirimos a moderação ou a temperança.
Platão acreditava numa alma imortal, que já
existia no mundo das Ideias antes de habitar nosso corpo. Assim que passa a
habitá-lo esquece das Ideias perfeitas. Então o mundo se apresenta a partir de
uma vaga lembrança. Para Platão, a alma quer voltar sempre para o mundo das Ideias.
Na Grécia antiga, órficos admitiam que a alma surgisse antes do corpo e viveria
depois que o corpo morresse. A alma reencarnaria. Isso aconteceria muitas vezes
até que um estado de pureza fosse alcançado. Gnósticos e maniqueístas também
tinham a reencarnação como um fato. A imortalidade da alma era aceita por
Platão e por estes grupos de estudiosos.
O Mito do Cocheiro de
Platão
No Mito do Cocheiro Platão
compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (emotivo) e
um negro (sensível). O corpo humano é a carruagem, e o cocheiro (Razão) conduz
através das rédeas (pensamentos) os cavalos (sentimentos). Cabe ao homem através de seus pensamentos
saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá se guiar no
caminho do bem e da verdade. Platão afirma que não podemos ser felizes quando
somos dominados pela concupiscência e pela cólera, isso porque as paixões
sempre nos conduzem por caminhos perigosos e contraditórios e fazem com que os
desejos e impulsos violentos de nosso corpo tirem nosso bom senso. Já dizia Sócrates que todo vicio é
ignorância. Não há nada mais deprimente do que uma pessoa que age por impulsos
e é dominada pelas paixões. Ter autocontrole é essencial para sermos felizes. A
felicidade só pode ser alcançada se formos capazes de dominar nossos
sentimentos pela razão. A moderação é uma virtude e ela se realiza quando somos
capazes de controlar a nossa concupiscência. O indivíduo moderado é aquele que
não cede as suas paixões, impulsos e prazeres. Da mesma forma o indivíduo não
se lançara a luta e a agressão indiscriminadamente, uma vez que a razão deve
saber discernir o que é bom e mal para nossa vida, sabendo dominar a nossa alma
irascível. Dessa forma, seremos felizes se através da razão soubermos controlar
nossa vida, pois a virtude natural da razão é o conhecimento.
O Estado e a teoria
dos reis filósofos
A Teoria Política de
Platão
A
República
é a maior e mais reconhecida obra política de Platão. A obra se foca na questão de justiça: Como é
um Estado justo? Quem é um individuo justo? Segundo Platão, a melhor forma de
governo é a ARISTOCRACIA por mérito.
Aristocracia,
etimologicamente, significa "governo dos melhores". Platão, em seu
texto República, afirma que a qualidade que capacita para o governo é o
desenvolvimento humano aprimorado, alicerçado na sabedoria, e que está é
restrita aos filósofos. Além disso, somente a partir de um forte processo de
seleção educativa, que tiver como base a igualdade para os envolvidos, será
possível e razoável determinar quem será o governante.
Platão divide o
estado ideal em três classes:
1. A classe dos comerciantes,
2. A classe dos militares,
3. A classe dos filósofos-reis.
Os filósofos-reis são encarregados de
governar o país. As classes não são hereditárias, elas são determinadas pelo
tipo de educação obtida pela pessoa. Com
maior nível de educação a pessoa se pertence à classe dos filósofos-reis.
A
República
aborda diversos temas sobre justiça, governo e apresenta um governo utópico.
Essa obra vem sendo amplamente lida através dos séculos, por mais que suas
propostas nunca foram adotas como uma forma de governo concreta.
Em A República, Platão idealiza uma cidade,
na qual dirigentes e guardiães representam a encarnação da pura
racionalidade. Neles encontra discípulos
dóceis, capazes de compreender todas as renúncias que a razão lhes impõe, mesmo
quando duras.
O egoísmo está superado e as paixões,
controladas. Os interesses pessoais se casam com os da totalidade social, e o
príncipe filósofo é a tipificação perfeita do demiurgo terreno.
O Livro VII de A República - tratar-se-á da educação do futuro governo-filósofo.
Todas as quatro virtudes (sabedoria, coragem, temperança e justiça) sobre as
quais deve ser construído o Estado Ideal, só são conhecidas, úteis e valiosas a
partir da ideia de Bem. Assim, a ideia do Bem se constitui no mais alto saber,
ao quais os guardiões devem aspirar e serem conduzidos. É mediante tal ideia
que tudo se torna compreensível:
“... No
limite do cognoscível (do que se pode conhecer) é que se avista, a custo, a ideia
do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de
quanto de justo e belo há; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da
qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela senhora da verdade e da
inteligência, e que é preciso vê-la para ser sensato na vida particular e
pública”
(517 a-b-c).
Mas, para que o guardião, futuro
filósofo-rei, atinja o Bem, é preciso “sair da caverna e contemplar o Sol”. É
no livro VII que está a “alegoria da caverna”, a mais sugestiva imagem da
República, que trata dos níveis do conhecimento humano (514-a. 518-b).
Platão considerava que a cidade-estado deveria
ser governada por filósofos porque somente o filósofo, era o ser ético e
virtuoso, e o único que poderia representar o povo... Pois o verdadeiro sábio
não deve ter como preocupação o dinheiro... Mas o bem maior que está acima do
poder do capital, que seria o Bem em si...
Conclusão
Bom! As ideias de Platão não persistem,
porque nenhum filósofo deu continuidade a esse pensamento de que o governante
deveria ser um Filosofo. E fazendo uma ponte com a atualidade, também vemos que
muitos políticos se preocupam mais em tirar vantagens para si do que resolver
os problemas sociais. É por isso que existem os manifestos no Brasil.. E se o
Brasil fosse governado por um filósofo, com certeza a realidade seria outra.
Platão era utópico. Sua forma de governo, tal
como proposta em sua obra A República,
só existe no mundo ideal, não no mundo real.
Nenhum comentário:
Postar um comentário